quinta-feira, 29 de setembro de 2011


Aquieta esse peito dolorido, menina. O que tiver de ser, vai ser." — (BoaNoiteCinderela)

Querido Acaso - Parte IAndava pela cidade com um de meus melhores amigos: um livro que há muito morava na cabeceira de minha cama. Ler sempre me aquecera o fundo da alma. Quando a vida me jogava no mar, os livros apareceriam - às vezes pilotando um barco, outras vezes com uma pequena bóia - e me salvavam da tormenta. Enquanto o mundo lá fora desmoronava, as histórias me levavam para outras épocas, outros mundos, outras vidas, todas juntando-se em fragmentos, formando a esplêndida criatura confusa que sou. Apesar de toda calma trazida pelas palavras, morava um vazio com ganas de ser preenchido. Uma sede insaciável de beber todas as palavras saídas de uma boca que - apesar de desconhecido dono - sabia de quem era. Uma fome incontrolável de ingerir todos os sentimentos. “Isso é carência”, diziam as amigas, decidindo que uma viagem e contato com corpos desconhecidos resolveriam o problema. Não resolveu. “Isso é bobagem”, diziam os céticos, por ora fazendo-me pensar que realmente era uma grande perda de tempo. Não era. “Isso é vontade de amar”, sussurrava o coração no silêncio da noite, quase sem voz, temendo ser repreendido pela razão e todos os outros sentimentos contrários à ele. Pensar sobre esse tal de amor me doía e acalmava ao mesmo tempo, confundia-me e me enchia de certezas. Lembrei de casais se declarando, de mãos entrelaçadas e promessas cumpridas. Nada se encaixava comigo. Minha imaginação jamais tivera a capacidade de formar um cenário romântico em que eu era uma das protagonistas. O amor não servia para mim, repetia em todas as horas de todos os dias, tentando convencer-me de minhas palavras. Mas algo lá no fundo dizia que aconteceria. Talvez fosse a esperança, talvez fosse uma maneira de não desistir. Nem um, nem outro. Era um presságio. Quando decidi deixar aquela vontade jogada num canto, esperando vê-la sumir, aconteceu.(BoaNoiteCinderela) 

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